domingo, 27 de setembro de 2009

Momento de Poesia: "Num futuro"

Inaugurando esta segunda temporada do Trajectória Aleatória, um poema. Não há cá métricas nem rimas regulares. Há algumas, no entanto; por isso procurem-nas.


Num futuro, daqui a alguns anos
Quando os carros voarem e vivermos em Marte
Um homem e uma mulher, amigos e amantes
Vão casar, e comprar uma casa, tentar ter filhos
E vão comprar um robot

O robot é útil e amigo
Lava a loiça e a roupa
Muda o óleo do carro
Limpa as cinzas do cigarro
E consegue analisar
Com enorme exactidão
O tempo de amanhã

Faz as camas
e lasanhas
Aquece e a arrefece
Alinha e desentorta
Ninguém nota que ele lá está

Como dizia no reclame
Arruma-se sem esforço
Debaixo da cama

E o marido, satisfeito
Sai de casa bem disposto
Vai para o seu posto, no emprego
Confiando que em casa
Deixa a esposa e o robot
Na maior alegria
Ouvindo música e limpando
As folhas secas do jardim

Mal sabe ele que de dia,
Ao mesmo tempo que se entende
Com os extractos de contas bancárias
E beberica o café que a secretária traz
Jaz a sua esposa na cama
Com tudo desabotoado
Esperando que do outro lado da porta
Surja o robot e diga, na voz de platina oleada
“Encontra-se preparada?”

A mulher semi despida
Solta os caracóis, atrevida, e sorri sensualmente
Com o seu marido frio e esguio
Nunca tinha tido daquilo
Uma tal actividade, de energia sem igual
e robótica precisão
Abre os lábios vermelhos e ordena
“Prosseguir com a introdução”
.

Sem comentários: