terça-feira, 1 de dezembro de 2009

"Oh pai, empresta aí a pressão de ar para eu ir brincar lá para fora!"

Como já não me revolto com nada há imenso tempo tenho mesmo de aproveitar esta notícia.

Um jovem de 14 anos está em morte cerebral na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital de Faro, depois de ter levado um tiro na cabeça. Ele e um amigo estavam a brincar com a arma (que era do pai da vítima) a dar tiros numas latas, e quando foram arrumá-la a arma disparou acidentalmente e o projéctil furou o cérebro do rapazinho.

O pai do rapaz, dono da arma, veio dizer à televisão que está muito abatido, e que “se soubesse que isto podia acontecer a arma tinha saído de casa nesse mesmo dia”; o que é fantástico, porque diz muito não só da inteligência deste pai (que é uma maravilha a prever consequências de o seu filho menor andar a brincar com uma pressão de ar) como também do nosso sistema que regula os portes de armas. Este homem não está preparado para ser dono de uma arma daquelas, uma vez que deixa o filho menor brincar com a arma (o que é ilegal) ou deixou a arma tão bem guardada que o filho a conseguiu tirar do local onde estava e dispará-la acidentalmente na direcção da sua própria cabeça (o que também é ilegal).

Veio um polícia à televisão explicar que quem tem uma arma destas é obrigado por lei a tê-la guardada num local que evite não só o seu furto, mas também a sua utilização por pessoas proibidas de utilizar uma arma destas; o que inclui, obviamente, o filho menor.

Para mim isto é muito simples: o rapaz foi burro, mas se está neste momento reduzido a um vegetal na UCI, é por causa da maior burrice do seu pai. Espero que este homem seja castigado exemplarmente, porque não é a primeira vez nem a última que aparecem casos de miúdos a matarem-se uns aos outros com as armas dos pais. Ninguém ouviu falar de fechaduras? Ou, talvez, de explicar aos miúdos que aquilo não é uma brincadeira? Ao que parece neste caso toda a gente da família sabia que o rapaz brincava com a pressão de ar com regularidade, o que é mais um testemunho à sua negligência.

Fico chocado quando o pai do miúdo tem a lata de dizer que (queria agora dizer “nem lhe passou pela cabeça”, mas no contexto não me parece apropriado) “nunca tinha pensado que aquilo podia acontecer”. Sim, é realmente improvável uma arma mal acondicionada ser utilizada pelo seu filho menor e dar em morte cerebral. Gostaria de dar os parabéns a este pai, que matou o seu filho por absoluta negligência e irresponsabilidade, e de congratular também o resto da família por ter sido tão militante em relação a tirar aquela arma lá de casa. De certeza que em Faro deve haver imensos ataques de perdizes a habitações privadas, que justifiquem ter uma pressão de ar à mão.

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