sábado, 14 de novembro de 2009

Portugal, Futebol e uma molécula qualquer esquisita

Hoje Portugal joga com a Bósnia, num dos maiores acontecimentos nacionais da semana. Entretanto, nos confins dos noticiários e jornais online, está a notícia de que três investigadores portugueses foram premiados pela sua investigação no campo da biologia molecular.
Com certeza que neste momento está toda a gente a ver o jogo da selecção, e por isso demasiado ocupados para reparar em tais trivialidades. Quando vos passar o patriotismo vão espreitar a tal notícia.


Uma equipa de cientistas portugueses foi premiada com o Prémio Grunenthal Dor pela descoberta de um fármaco com capacidades analgésicas que pode vir a ser usado no combate à dor e na terapia de doenças neuro-degenerativas, como a doença de Alzheimer e a doença de Parkinson.


Nada de especial, até aqui. Não se percebe até que ponto esta coisa de combater as doenças neuro-degenerativas se possa sequer comparar com o Cristiano Ronaldo ter o joelho entrevado. Continua a notícia, explicando na prática o que isto tudo significa significa:


Os cientistas basearam-se numa molécula com propriedades analgésicas já conhecidas, a quiotorfina. Contudo (…) esta era incapaz de chegar ao cérebro, o que impossibilitava a sua utilização como analgésico. A fim de contornar este impedimento, a equipa de investigadores desenhou uma nova molécula derivada da quiotorfina que mantém as propriedades analgésicas e tem capacidade de atravessar membranas biológicas (…) A patente do medicamento já foi registada e, além disso, já há um financiamento europeu para o seu desenvolvimento industrial.


Enquanto nós, pessoas sérias e patrióticas, nos perdemos em acutilantes elogios e longos tempos de antena dedicados aos nossos heróis nacionais, esses grandes jogadores de fubetol, andam por aí estes tipos a brincar aos médicos, e que lá se vão lembrando de umas coisas, patenteando medicamentos absolutamente inúteis e gastando o dinheiro europeu (em estádios?) em trivialidades, como o combate às doenças degenerativas. Temos cientistas portugueses a redesenhar moléculas para o bem da população, mas porque é que isto me deveria interessar mais do que as fintas e os penaltis?

Chega de sarcasmos. Faço questão de deixar aqui esta mensagem de parabéns aos cientistas em questão, que parecendo que não fizeram mais por todos nós com uma molécula do que o Cristiano Ronaldo alguma vez fará com os seus golos.

Parabéns às televisões, que ignoram acontecimentos como estes; parabéns aos organismos do estado, sempre a apoiar a ignorância científica do povinho que lá vai deixando passar estas coisas. Parabéns a Portugal, se ganhar o jogo. Se não ganhar, parabéns na mesma. O que interessa é o orgulho nacional, não é?

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