quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Já foram fecundadas hoje?

Eu sei que já falei por duas ocasiões, aqui e aqui, sobre o casamento homossexual; mas esta notícia é simplesmente uma delícia, e deixá-la passar sem comentários seria denotar sinais de, digamos, perturbação psicológica.

Para o médico Gentil Martins, que também é um dos mandatários da Plataforma Cidadania e Casamento, a homossexualidade é, de facto, uma doença. «A Associação Americana de Psiquiatria sempre o considerou e só com a pressão dos lobbies gay é que mudou de posição»

Ao que parece, a Conspiração Gay, que como todos sabemos trabalha incansavelmente para a destruição da Humanidade, anda em Portugal a fazer das suas. Gosto particularmente do apelo à autoridade. Ei, se os Americanos dizem que a homossexualidade é doença, quem somos nós para discordar?

Mas, espera lá… Uma pequena pesquisa revela que…

In 1952, when the American Psychiatric Association published its first Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, homosexuality was included as a disorder. Almost immediately, however, that classification began to be subjected to critical scrutiny in research funded by the National Institute of Mental Health. That study and subsequent research consistently failed to produce any empirical or scientific basis for regarding homosexuality as a disorder or abnormality, rather than a normal and healthy sexual orientation. As results from such research accumulated, professionals in medicine, mental health, and the behavioral and social sciences reached the conclusion that it was inaccurate to classify homosexuality as a mental disorder.

E ainda, do mesmo artigo…

The World Health Organization's ICD-9 (1977) listed homosexuality as a mental illness; it was removed from the ICD-10, endorsed by the Forty-third World Health Assembly on May 17, 1990.

O que significa que a homossexualidade deixou de ser considerada uma doença e depravação há vinte anos. Mas deixemos por momentos o espectacular sentido de actualidade do Dr. Gentil Martins, e concentremo-nos no resto das suas declarações.

«Desde que o mundo é mundo que existem homem e mulher. Se a homossexualidade evoluir acaba a humanidade», frisou, não escondendo a sua posição sobre este tipo de ligação conjugal.

O horror. A tragédia. O caos. Toda a gente entende o peso inequívoco deste argumento. Se todas as pessoas no planeta fossem homossexuais, então a humanidade tem os dias contados!

Isto, claro, se partirmos de dois princípios ridículos. Primeiro, que toda a gente no planeta vai mudar de orientação sexual assim que perceberem que, se forem homossexuais, podem casar. E segundo, está subentendido que homossexuais, por definição, geram mais homossexuais. Afinal a homossexualidade não é só uma depravação mental, é uma doença contagiosa!

Isto é, claramente, ridículo. Pensem em todos os homossexuais nascidos de famílias ditas “tradicionais”, criados por um pai e uma mãe. Obviamente que a grande maioria dos homossexuais nasceram de famílias com casamentos heterossexuais. O que é que isto significa? Que a homossexualidade tem causas naturais, e não é o resultado de um ambiente hostil ou de uma infância rodeada de depravações sexuais? Ou que se trata de uma perigosa doença que afecta inocentes crianças e adolescentes, trazendo consigo a eminente desgraça do mundo?

Por último,

«Não se pode misturar as coisas, pelo que a sociedade tem de escolher a sua cultura. Temos de decidir o que é normal em Portugal, mas, na minha opinião, a pedofilia e a homossexualidade são perturbações psicológicas»

Isto é, simplesmente, nojento. Colocar na mesma frase, e ao mesmo nível, a homossexualidade e a pedofilia, subentendendo uma comparação entre as duas, é o maior acto de ignorância que já ouvi em todo este debate sobre o casamento gay. Não sei se preciso de perder tempo a comparar a atracção sexual por pessoas do mesmo sexo e a violação e abuso de crianças inocentes para mostrar que não são comparáveis em nenhum sentido. Talvez o argumento mais óbvio seja, oh, não sei, a homossexualidade diz respeito apenas a quem é homossexual e em nada prejudica quem os rodeia... Enquanto que a pedofilia define-se pelo abuso sexual de uma criança menor, inocente e indefesa.

Diz ainda o Dr. Gentil Martins:

«Sob ponto de vista psicológico e científico existem órgãos definidos que definem a complementaridade entre homem e mulher e isso que é que faz evoluir a humanidade».

O que é fantástico, porque isto é um argumento contra a homossexualidade. E, também, contra quem é solteiro. E, ainda, contra os casais que estão casados, a aproveitar-se da Instituição do Casamento mas sem ter filhos. E, reparem, contra qualquer outra pessoa que não esteja neste momento a planear deixar descendência. São tudo, obviamente, depravações, uma vez que não têm como objectivo a proliferação do ser humano. Ora imaginem só se toda a gente fosse solteira! Ou se, horror dos horrores, todos casais não quisessem ter filhos!

A única forma de manter alguma coerência nos seus argumentos é esta gente defender a obrigatória fecundação de todas as mulheres em idade fértil em Portugal, uma vez que alguém que não tenha filhos é um risco para a evolução do Homem. Portanto, proponho um referendo que pergunte: “Todas as mulheres do país deveriam ser fecundadas?”; e, em resposta, todos os homens podem responder “Sim”; e se me disserem que os homens não podem decidir sobre o futuro das mulheres, uma vez que é uma decisão que só a elas diz respeito, responderei:

«Não se pode misturar as coisas, pelo que a sociedade tem de escolher a sua cultura. Temos de decidir o que é normal em Portugal (…) Sob ponto de vista psicológico e científico existem órgãos definidos que definem a complementaridade entre homem e mulher e isso que é que faz evoluir a humanidade».

Conseguem ficar de braços cruzados quando aquilo que garante a evolução da Humanidade está constantemente a ser negligenciado por essa gente que tem a mania que tem direitos ou decisões sobre o que faz com a sua liberdade? Pensem nisto, e não se deixem cair em depravações.

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