quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O que estou aqui a fazer às duas da manhã

Insónias, para variar. Tenho de acordar daqui a seis horas, pelo que o verdadeiro arrependimento e mágoa só virão amanhã de manhã, ao ouvir o despertador. Por agora vim escrever, para melhor expressar o que me vai na alma.

Tenho dois tipos de insónias, a insónia eufórica e a insónia de fraqueza. A insónia eufórica é a que estou a ter hoje, sem razão aparente. Não consigo dormir, e pela minha cabeça passam milhões de imagens distintas e aleatórias. Caras de pessoas, acontecimentos, cenas de filmes, capas de livros, árvores, animais, partes de vídeos, peças de roupa, cores, texturas, pessoas. É uma espécie de catálogo a alta velocidade. Tem banda sonora e tudo: ouço sons em concordância com as imagens que imagino, ou (na pior das hipóteses) um refrão ou letra de uma música a passar em loop constante e doentio. Ouço a mesma música vezes e vezes e vezes sem conta, e seria de esperar que isso me adormecesse, mas acaba por acordar-me ainda mais. Suponho que as torturas de sono utilizadas nos prisioneiros em Guantanamo sejam muito semelhantes ao espectáculo de pirotecnia criativa com que o meu cérebro me delicia de vez em quando.

O outro tipo de insónias que também costumo ter é mais angustiante. Imaginem o seguinte cenário: acabaram por passar por um dos dias mais longos das vossas vidas. Tiveram um exame importante, aulas difíceis, discussões, viagens compridas, coisas para entregar á última hora, experiências de quase morte, qualquer coisa. Estão estafados. Parece que foram espancados por um pugilista profissional. Todo o vosso corpo é uma massa disforme de dor e cansaço, e tudo o que a vossa mente consegue vislumbrar por entre a penúmbra da fraqueza é uma almofada. Agora imaginem que, durante horas e horas e horas, se reviram na cama sem conseguir dormir. Tudo no vosso relógio biológico vos diz que está na hora de dormir, e tudo o que pedem do vosso corpo são duas ou três horas de sono, ou um momento apenas de paz adormecida, mas nada. Ficam acordados. Durante horas. A desfalecer, mas acordados. Durante horas. Literalmente. Horas.

Deve haver qualquer tipo de explicação natural para isto; tem de haver. Se depois de ser observado por um batalhão de neurologistas mesmo assim não conseguir encontrar uma explicação, talvez me vire para aquelas coisas New Age de virar a cama para um ponto cardeal qualquer, ou dormir com cristais na mesa de cabeceira. Talvez o placebo funcione mais do que a simples vontade voluntária de dormir. Prometi a mim mesmo que vou a um médico ver o que se passa (há anos, porque nada disto é novidade para mim), e vou mesmo.

Por agora vou tentar dormir. Vou voltar para a cama com optimismo e coragem. Vou provavelmente demorar a adormecer. Muito. Amanhã será um dia dedicado a manter-me acordado.

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1 comentário:

patricia colaço disse...

AO SEGUNDO TIPO COSTUMA CHAMAR-SE "OVERTIRED"