domingo, 30 de maio de 2010

A Lena ganhou sozinha?

Quem viu a Eurovisão ontem? Eu vi, gosto de assistir a humilhação voluntária, especialmente para toda a Europa. Para variar, a nossa música ficou brilhantemente colocada (a ¾ da tabela). Parabéns Portugal!
A música vencedora, “Satellite”, é uma coisa pequena e agradável que, apesar de não ser particularmente inteligente nem arrojada, fica no ouvido e resulta. O meu problema está na forma como a música foi dada como vencedora.
O troféu é entregue à intérprete, uma miúda que parece ter 12 anos e tem um sotaque irritante. É ela quem recebe todos os aplausos e honras do público. Pergunto: onde estão os autores da canção? Onde está quem a compôs, e quem lhe escreveu a letra? Para quem votou na música porque gostou realmente dela, deveriam ser esses os heróis da noite. Há uma tradição de dar a quem canta todas as atenções e borrifarmo-nos completamente para as verdadeiras mentes criativas e artísticas por detrás de qualquer sucesso.
A mesma coisa acontece no mundo do cinema. O realizador e os actores são venerados como as cabeças mestras de qualquer filme, e toda a gente se esquece de um senhor chamado argumentista. Sem argumentista não havia "aquela personagem" ou "aquele diálogo/ fala espectacular". Não haveria história, enredo, ou personagens. O realizador concretiza e o actor dá vida, mas a personagem e a história de que gostamos saíram da cabeça de um gajo com um portátil à frente, da mesma forma que a última música "da Beyoncé" ou de qualquer outro intérprete é o resultado criativo do trabalho de alguém a quem ninguém nunca vai dar o reconhecimento merecido. Faz parte do romantismo da coisa imaginar o nosso actor ou cantor favorito e não um anónimo qualquer quando pensamos nos objectos artísticos que nos inspiram, mas nada podia ser mais injusto da nossa parte. É assim o maravilhoso mundo artístico.
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