terça-feira, 24 de agosto de 2010

Smith e as Sereias - episódio 6

Previamente, no quinto episódio de Smith e as Sereias, aconteceram muitas coisas engraçadas e estimulantes. Descubram tudo sobre elas ao ler o episódio; estou de férias e recuso-me a ter de escrever resumos. Pronto.

Saí da estufa e dei de caras com Poseidon, apressado e bem vestido. Parou.

- Smith, o que anda a fazer por aqui?

- Sinceramente, vim escolher algumas algas para dar à sua filha.

- A sério? Ela vai adorar. Aproveite e dê-lhas hoje à noite.

- Hoje à noite, senhor.

- Não lhe tinha dito já? Vai passar a dormir todos os dias com a Ariel. No quarto do Principado. Começar uma vida tradicional de casal.

A minha boca abriu-se. Fechou-se outra vez.

- Dormir com a Ariel, senhor?

- Claro. Vai ser o pai do prncipe deste reino, acha que ia dormir com os criados? Com o resto das sereias?

Dormir com as outras sereias? Corei. Agora andava a corar demasiadas vezes para o meu gosto. Poseidon parecia apressado, mas olhou para o ramo de algas que eu trazia e quedou-se por momentos a pensar. Sem tirar os olhos das algas:

- Esse tipo de coisas costumam ser sinal de cavalheirismo, não é, Smith?

- Sim, senhor.

- Humf.

Poseidon olhou para mim, depois para o ramo outra vez.

- Smith, vou encontrar-me com uma diplomata importante do Pacífico Norte. Coisas de Estado. Acho que... Quer dizer, seria talvez simpático levar-lhe uma lembrança.

- Ah – respondi eu. Olhei para as algas. Tentei decorar a harmonia entre as cores para quanto a tivesse de reproduzir mais tarde. Estendi-as a Poseidon.

- Leve estas, senhor.

- Smith, meu caro, nunca poderia aceitar. Mas sim, desta vez estou atrasado e... Bem – Poseidon arrancou-me as algas das mãos – Muito obrigado, Smith.

- A água de colónia também é uma lembrança para a diplomata do Pacífico, senhor? - perguntei eu. Pimba, apanhei-te. Poseidon olhou-me de alto abaixo e respondeu-me com o desdém de quem já estava à espera da gracinha.

- Tem a breguilha aberta, Smith. Componha-se.

Baixei-me rapidamente, arranjei as calças e Poseidon afastou-se levando o seu perfume para longe.

***

Voltei a entrar na estufa, reuni um punhado de algas e dei de caras com Lilith, a sereia loura. Estava sentada num banco, a tirar escamas velhas da barbatana.

- Pensei que tinhamos combinado sair com alguns minutos de diferença – disse-me ela. Tinhamos mesmo.

- Vou viver com Ariel para a suite principal ou lá o que é.

Lilith parou o que estava a fazer e olhou para mim. Levantou uma sobrancelha.

- Com que então conseguiste. Nas boas graças do Rei dos Mares, hum? E o que achas que fazemos agora?

- Não podemos repetir este nosso pequeno encontro. E acho que está na altura de voltares para o teu posto na enfermaria – estava a ser extremamente frio e calculista, para ver se ela percebia que quem mandava ali era eu.

Em teoria; porque na práctica estava tao perdido como ela. Aquela tarde tinha sido maravilhosa, nunca na vida poderia ter imaginado que as escamas despertavam em mim tamanha sensação de luxúria; mas se ia viver com Ariel para um quarto qualquer importante seria de esperar alguma fidelidade. Ia tentar, pelo menos. Lilith não disse nada, regressou ao que estava a fazer à barbatana.

- Faz como quiseres, Smith. Sinceramente.

Virei as costas e vim-me embora.

***

O moço louro estava deitado no seu quarto, olhando para o tecto e pensando na sua Rose. Alguem bateu à porta, ele foi abrir. Era a sereia loura.

- Olá, Heath. Como estás?

- Que mania de me trocarem o nome. Chamo-me Jack. A ver se acertam de uma vez por todas. Quem és tu?

- Outra personagem. Jack, dizes tu? Que coincidência. Se calhar és tu o autor do desenho que o Smith tem numa das suas gavetas – disse Lilith – De uma mulher nua, parecida com a Kate Winslet.

- Como sabes desse desenho?

- Eu agora sou a secretária dele. Andei a cuscar pelas gavetas, á procura de um documento de trabalho. Sabes, ele é colecionador de imagens eróticas. Disse-me que aquela era uma boa aquisição. E que esperava sinceramente que a Rose nunca mais aparecesse porque ele não queria ter de fazer amizade com uma das suas modelos eróticas. É um tarado, portanto.

***

O moço louro entrou-me pelo escritório adentro, furioso. Agitou os braços de um lado para o outro, empurrando a cadeira para o chão.

- Onde está o desenho?

- Desculpa? - tinha-me apanhado despercebido. Estava sentado a fazer bonecos num papel, a pensar na melhor forma de dar as algas a Ariel.

- O desenho que eu fiz da Rose. Devolve-mo!

- Não sei do que estás a falar – disse lhe eu. Era um terrível mentiroso. O moço louro subiu-me para cima, dando-me um murro na testa. Caí para trás, levei as mãos à cabeça. Ele revirava a secretária de alto abaixo ä procura da porcaria do desenho. Deu de caras com a gaveta onde estava o desenho, puxou-o para si com todo o cuidado, ficou a observá-lo por momentos.

- Rose...

- Ouve, nem sei bem quem o tirou do cofre onde estava. Eu não faço a mais pequena ideia de como isso foi ai parar. Juro.

- Onde, à tua gaveta pessoal? - perguntou o moço louro – não viste que tinha a minha assinatura?

- Diz aí Tom Cruise?

- Não, idiota. Jack. É o meu nome. E esta – disse-me ele, apontando para a esbelta sósia da Kate Winslet – é a minha Rose. E tu – apontou-me o dedo – És um pervertido desonesto.

O tal Jack, que sinceramente se parecia mais com o Tom Cruise do que com o Heath Ledger quando estava zangado, saiu a correr do meu escritorio. Levantei-me a custo. Lilith entrou pela porta aberta, transportando aquele sorrisinho sarcástico. Olhei para ela, ela olhou para mim e depois para o ramo de algas.

- O que falámos há bocado sobre cores complementares não te serviu para nada – comentou. Virou as costas e nadou dali para fora, acrescentando – esse ramo esta horrendo.

***

Ariel olhava-se ao espelho. Estava a despedir-se do seu quarto. Em cima da sua cama, uma mala de viagem permanecia aberta, com algumas mudas de roupa na forma de soutiens roxos, e uma série de fotografias de actores que ela admirava. Bateram à porta. Era Sebastião, o caranguejo vermelho.

- Menina Ariel, está pronta? Posso levar-lhe a mala?

- Podes sim, Sebastião – o caranguejo, de cabeça erguida à mordomo, indicou o caminho a dois atuns enormes, que nadaram para dentro do quarto, agarraram na mala de Ariel e a transportaram para fora.

- Sebastião?

- Diga, menina Ariel.

- Podes trazer-me uma sardinha-correio?

- É para já, Menina – Sebastião fechou a porta, e Ariel tirou da gaveta da cómoda uma carta. No lugar do destinatário estavam três nomes, “Ron Clements e John Musker, Walt Disney Pictures”.


Todas as Terças e Quintas há novos episódios de Smith e as Sereias.

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