As entrevistas de rua são sempre divertidas, mas mais divertidas ainda são as entrevistas de rua em que a malta mostra imbecilidade. Não imaginam a quantidade de gente que foi entrevistada hoje a dizer que se calhar a Monarquia era muito melhor do que a República. Porquê? Porque "a Espanha tem uma Monarquia, e eles estão melhor do que nós. Logo, a Monarquia é muito melhor".
E se repararmos bem, este raciocínio nada falacioso funciona bem quando aplicado a outros contextos. Reparem:
1. No Afeganistão a maioria das pessoas usa barba
2. O Afeganistão está pior do que nós na violência e no terrorismo
3. Logo, para evitarmos a insegurança, devemos fazer todos a barba
Cristalina, esta lógica. Mas o que gosto mais é quando as pessoas entrevistadas dizem qualquer coisa como "É que o nosso Presidente no fundo não serve para nada", e que um rei, como disse uma senhora, "Tem um poder maior".
Na cabeça das pessoas, o Rei tem mais poderes que um Presidente da República, como o Super Homem tem mais poderes que o Batman. Esqueçam cá essas coisas do início da escolaridade pública, ou os valores da liberdade e democracia: um Rei tem poderes mágicos, e por isso a Monarquia é boa ideia. Se calhar voa, ou tem visão raio-x.
E além disso, com uma família real poderíamos deixar de nos preocupar com essa coisa de estar informados em relação à actualidade, e eleger democraticamente o nosso maior representante. Ele nascia no berço de ouro e está a andar. Depois casava-se com outra princesa e podíamos finalmente ter rainhas bonitas, que é outra coisa que os espanhóis têm e nós não. E ter casamentos grandes.
O problema também é outro: as pessoas não fazem a mínima ideia do significado do 5 de Outubro, muito menos o que foi a Implantação da República. Uma senhora entrevistada pela SIC, por exemplo, diz-nos que o último rei foi "o D. Filipe". Eu simplesmente não me lembro de dar o 5 de Outubro na escola. Para quê, afinal, quando posso estudar quatro ou cinco vezes a civilização grega ou o neolítico?
Lá vem a lógica outra vez:
1. Na América não se estuda o 5 de Outubro
2. A América está melhor do que nós
3. Não devemos estudar o 5 de Outubro para ficarmos melhor.
Implacável!
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