sábado, 20 de novembro de 2010

Eu protesto contra este blog porque ele mata crianças inocentes e é capitalista

Uma grande manifestação está a reunir-se (enquanto escrevo este post) no Marquês de Pombal para protestar contra a NATO. A avaliar pelas opiniões destes iluminados e imparciais intelectuais, a NATO tem como principal função o capitalismo, a ocupação militar e a opressão dos pobres.

Enquanto, no Parque das Nações, se discute a melhor forma de retirar as tropas do Afeganistão e de unir esforços com a Rússia para evitar mais atritos internacionais, os manifestantes reúnem-se para combater aquela que é uma “organização criminosa” e que só faz coisas terríveis. Olhando para o mundo pelos olhos destes manifestantes, a NATO é a principal inimiga da paz mundial. Porquê? Isso também eu gostava de saber, assim como os vários jornalistas que fizeram as mesmas perguntas. Tudo o que se ouviu da parte dos pacifistas é o intelectualmente preguiçoso: “Porque sim”.

Um senhor, em visível estado emotivo, declarou mesmo que “Enquanto uma criança morre a cada seis segundos, “eles” gastam milhões em armamento”. O que é uma lógica lindíssima, que pode ser aplicada a qualquer outra coisa. Esse mesmo senhor podia salvar centenas de crianças, todos nós podíamos. Sempre que vamos ao cinema, compramos uma garrafa de vinho, compramos um livro ou vamos almoçar fora com a família, estamos a gastar dinheiro que poderia salvar nem que seja uma criança esfomeada. Esse mesmo senhor poderia ter salvo um menino africano com SIDA. Bastava enviar o dinheiro que gastou em gasolina ou no autocarro para ali chegar, bem como aquele que gastou para comprar a bandeirinha vermelha.

Este tipo de hipocrisia toca-nos a todos. Por isso, alguns admitem-no e lidam com ela. Outros, colocam as culpas “naqueles” malandros. O raciocínio é simples: eles são poderosos, têm pistolas. Logo, fazem guerras. Logo, são o principal inimigo da paz. Logo, matam meninos de fome. E no dia em que a NATO acabar, todos os problemas do planeta serão solucionados. Ora, isto faz todo o sentido.

Mas, apesar da inatingível lógica dos manifestantes, eles escolhem outras formas muito mais eficientes de passar a sua mensagem. Com tambores, por exemplo, quando ontem um mísero grupinho de jovens estrangeiros se reuniu no Chiado. Ou todas as outras manifestações, que ao invés de mostram à população a sua cristalina mensagem de paz, desmontam-se em exibicionismos. “Olhem para mim, a cobrir-me de tinta vermelha!”, ou “Olhem para mim, a simular um bombardeamento em pleno centro da cidade e, ao deitar-me no meio da via pública, atrasar a vida de todas as outras pessoas!”

Pouco surpreende que esta grande manifestação no Marquês tenha a forte presença política do PCP. Tal como este partido, os manifestantes sabem que têm razão, repetem a mesma lengalenga vezes e vezes sem conta e procuram chamar a atenção das outras pessoas com tretas emotivas e não com argumentos decentes. E partilham outra característica: vivem com 60 anos de atraso em relação ao resto da população. Um manifestante defendia que “A NATO foi criada num contexto político que já não existe, e por isso a organização é inútil”. Claro, porque hoje em dia já não há ameaças. O Irão não é uma ameaça, muito menos os tarados armados que habitam o Médio Oriente. A União Soviética terminou, e o mundo entrou numa paz constante e linda apenas destruída pelas forças da Aliança Atlântica. E pelo capitalismo, claro!

Se a NATO é um monstro assim tão grande, não deveria ser difícil “educar” a população para esse escândalo. Em vez disso, os manifestantes preferem manifestar-se. Fazer barulho. Aparecer na TV. Tudo por um mundo melhor!

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