quinta-feira, 5 de maio de 2011

História em Segundos #4

Às vezes os dias longos passam mesmo muito devagar e eu sinto que o tempo é coisa que já não existe. Pelo menos para mim. Para os outros talvez, que correm de casa para a rua e de rua para casa, sempre a olhar para o relógio como um certo coelho da minha infância. Para mim não. Para mim o tempo é uma construção daqueles que o têm a perder. Gente como eu vê o dia e a noite a virem e irem como se nada fosse, parte integrante da vida e das coisas, e não como quadrículas num calendário. As flores morrem-me à frente e não sinto pena por mim mas por elas, que coitadas possuem apenas seivas modestas e vivem para florescer e murchar. Mal têm a consciência da sua própria situação, espetadas num vaso e a ele limitadas, agarradas à terra, que até um mísero pardal ou pombo de rua pode voar e é mais livre. As plantas também nascem e crescem e morrem como nós, mas a elas pouco lhes importa exactamente porque não sabem o que é isso do tempo. Não sabem que vão morrer, nem que nasceram, nem reflectem sobre se serão relembradas. Esses sentimentos são invenções humanas, de primatas que se amam demais uns aos outros para poderem murchar com dignidade. Como uma planta.

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