sexta-feira, 10 de junho de 2011

O Pepino Assassino

A noite estava fria e escura quando…
 
- Não, não, não – disse a Consciência – não vais fazer isto.
Como assim, isto?
- “O Pepino Assassino”?
É o título da história.
- Um pouco previsível, não achas? Não vais fazê-lo. Seria brincar com coisas sérias.
Com coisas sérias? O que há de menos sério que um legume assassino?
- Legumes, aliás.
Ainda mais sério fica… Um gang de legumes!
- Trata-se da morte de gente inocente. Não brincarás com tal coisa.
Eu não ia brincar com a morte de pessoas, apenas com a ideia de haver legumes assassinos. Parece-me obviamente diver…
- Ora aí está um advérbio certeiro e necessário, para variar. Seria demasiado óbvio!
Então não se trata de uma questão moral ou ética, mas simplesmente um potencial vazio de conteúdo…
- Lê-me como quiseres. Estou aqui para evitar que faças disparates. Talvez dando uma volta à coisa…?
Uma volta?
- Sim, uma volta. Tu é que és o Autor, inventa qualquer coisa.
Mas a piada era essa, ser simplesmente um legume assassino.
- Isso não é simples, é complexo. Como mataria as suas vítimas?
Apepinando-as.
- Inventaste esse verbo hoje?
Ah ah. Sim. Porquê?
- Tem potencial. E o que significa exactamente apepinar uma pessoa?
Significa isso mesmo, atingir-lhes com um pepino com uma frequência e intensidade que a conduzam a lesões externas ou internas que conduzam por sua vez ao falecimento da vítima.
- E como se locomove esse pepino assassino?
Com as suas muitas seivas e assim.
- Tu gostas de ciência e de ser rigoroso. Não poderias inventar algo melhor?
Talvez possa ser um pepino radioactivo, vítima de uma descarga de urâneo-125 de uma fábrica militar norte-americana.
- Ah, isso explica tudo.
E explica mesmo. Com tamanha radiação, houve uma reorganização do material genético no núcleo das células do pepino, conduzindo a drásticas mudanças no seu fenótipo. Resumindo, ele consegue agora saltitar até à casa das vítimas e matá-las com algumas pepinadas bem aplicadas na cabeça.
- Agora o pepino tem conhecimentos de anatomia e medicina?
Claro que sim. A radiação transformou-o não só num pepino super-forte como num pepino super-inteligente.
- Isso faria dele um vilão internacional
E porque não? A conquista do mundo pelas mãos de um pepino.
- Pelas mãos de um pepino… Como quererás tu ser levado a sério?
As minhas desculpas, então.
- Mudaste de ideias?
Mudei.
- E que fazer agora com o título?
Deixá-lo. Poderá atrair leitores de mau gosto, que acabarão por ler o resto do texto sem saber que em nenhuma ocasião lerão a história do pepino assassino.
- Isso faz de ti uma fraude criativa.
Talvez, talvez.
- Sendo assim o meu trabalho aqui está feito.
Boa noite, então.
- Boa noite e até à próxima.
Foi um prazer
- Igualmente. Vá, adeus.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A noite estava fria e escura quando a mulher acordou para ir beber água. Nesse preciso momento…
Ah, agora já não funciona.

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