segunda-feira, 11 de julho de 2011

Samora 24

Já nos conhecíamos há alguns meses e o nosso companheirismo pronunciava-se. Um dia Samora aproximou-se de mim enquanto lia um qualquer volume de uma das suas enciclopédias. Trazia consigo um enorme manuscrito, amarelecido, cheio de gatafunhos.
- Observe. O terceiro volume da minha magnum opus. Terminado.
Fechei a enciclopédia e estendi as mãos para lhe pegar. Samora recuou.
- Que é isso, está louco? Só o lerá quando for publicado, juntamente com os outros. Aliás, fica desde já convidado para a apresentação, quem sabe poderá rabiscar um prefácio que depois eu possa polir.
- É sobre o quê?
Samora olhou-me nos olhos.
- Que me diz?
- Perguntei sobre o que é a sua obra.
Samora olhou para o manuscrito que tinha nas mãos, franziu-se, passou-lhe a palma da mão pela primeira folha.
- Nunca me tinham perguntado isso – murmurou. Querendo dizer, Nunca tinha perguntado isso a mim mesmo.

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