segunda-feira, 28 de maio de 2012

O filósofo e o elevador


- Sabes, elevador, em Física aprendi sobre um conceito chamada “caminho percorrido” – disse o filósofo ao elevador. O elevador, que nunca tinha sido interpelado antes, alinhou os cabos para melhor ouvir o filósofo.


– Imagina um carro. O carro está no ponto A. Ele vai até ao ponto B, que é a dez quilómetros de distância. Porém, não descreve uma linha recta entre os dois pontos. Ele anda aos ziguezagues. O carro chega ao ponto B achando que percorreu uma enorme distância, por causa de todas as curvas, mas bem vistas as coisas moveu-se apenas aqueles dez quilómetros que separam os dois pontos.

O elevador continuou a subir, expectante. Que significava tudo aquilo?

- Ora, pus-me a pensar, elevador – continuou o filósofo – que se o ponto A e o ponto B fossem o mesmo (chamemos-lhe ponto C) isto é, se não houvesse distância nenhuma entre eles, e se o carro abandonasse o ponto C, percorresse vários quilómetros e depois regressasse ao mesmo sítio, diz-nos a física que o caminho percorrido pelo carro seria zero.

O elevador abrandou a marcha.

- Pus-me a pensar nas implicações deste fenómeno e fui fazer umas perguntas ao teu responsável – prosseguiu o filósofo – e ele informou-me que todas as noites, findados os trabalhos no prédio, tu e todos os outros elevadores regressam ao rés-do-chão para serem desligados, a fim de não desperdiçarem energia.

O elevador chegou ao andar que o filósofo lhe pedira mas não abriu logo as portas.

- Depois de um dia inteiro de subidas e descidas, regressam sempre ao mesmo ponto. O vosso caminho percorrido é zero.

O elevador abriu devagar as portas, pensativo. O filósofo saiu, desejando boas tardes.

O elevador já não obedeceu à chamada que lhe fizeram a seguir; largou-se em queda livre e veio espatifar-se na cave.

Quando quis descer o filósofo teve de usar as escadas.  

Sem comentários: