quarta-feira, 6 de junho de 2012

O Corrector


- A gente temos de ter cuidado com o degrau do comboio! – avisou a educadora. As crianças levantaram-se, preparando-se para descer na estação seguinte. 

De súbito o comboio parou a meio da linha e todos os transportados viraram a cabeça para a educadora, austeros, de boca fechada. As crianças, assustadas, olharam em volta. Uma das portas abriu-se e entrou um homem de fato branco, gravata branca, sapatos brancos, enorme cabelo preto e olhos pregados na educadora. Caminhou até ela enquanto afagava a cabeça das crianças:

- “A gente” deve ser seguido de “tem” e não “temos”, porque “a gente” é singular e não plural. Apesar de aparentemente incorrecta, a expressão pode ser utilizada mas – e com isto chegou à educadora, apontando-lhe um indicador – com muito cuidado. Eu diria até que a gente tem, tem! de ter cuidado.

E, em jeito de despedida, aplicou um sonoro carolo no cucuruto da educadora. O homem de branco saiu apressadamente, os passageiros voltaram a olhar em frente e o comboio retomou a marcha. As crianças riram vendo a educadora curvada de dor, e aprenderam que a gramática também podia ser divertida. 

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