quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Reflexões sobre o queijo

Ia fazer uma sandes de queijo. Fui até ao frigorífico, abri a porta, tirei o pacote de queijinhos e abri-o. Foi com isto que me deparei:



O denso silêncio na caixa de cartão. O solitário queijinho da Vaca que Ri. Que contraste, entre o sorriso da vaca e o que o queijinho deverá estar a sentir. Fico a olhar para esta triste imagem, e paro por momentos. Adio a sandes de queijo só para tirar esta fotografia, porque acho comovente. Um abandonado queijinho, que viu todos os queijinhos irem-se embora e agora ali está sem saber o que lhe vai acontecer. Queijinho a queijinho, eles foram desaparecendo; e todos desaparecerão dentro do prazo de validade, uma vez que prezo a saúde e estabilidade do meu sistema intestinal. Se este queijinho tivesse consciência, o que estaria a pensar neste momento? Estaria com saudades dos outros queijinhos, ou a aproveitar o facto de estar sozinho na caixa e poder andar de um lado para o outro livremente? Estaria a reflectir sobre a diferença entre a alegria de uma caixa apertada ou a liberdade de uma caixa só para si? Será que é assim que pensam aqueles que partilham o quarto com os irmãos, ou vivem numa grande casa de família?

E de que forma verá este queijinho a ida dos outros queijinhos quando sabe que só resta a sua? Sentirá medo? Terá criado para si uma crença artificial que o ajude a compreender, na sua limitada consciência de queijinho, o que vem depois da Ida? Como se sentirá agora, sabendo que os outros queijinhos já sabem muito mais do que ele em relação a isso? E pior, que sentirá ele ao olhar para a caixa vazia e constatar que irá sozinho enfrentar o que quer que acredite que aí vem?

O que pensará ele sobre o sentido da sua existência? Sentirá, talvez, que a vida na caixa foi boa, mas que agora está na altura de ir embora; ou quererá talvez ficar mais tempo, com medo do que possa aí vir. Sentir-se-á realizado? Será que um dos queijinhos era seu amigo, sua namorada, seu confidente? Como terá sido a estranha despedida?

E principalmente: terá o queijinho o sentimento de que a sua vida de queijinho, dentro do mundo dos queijinhos, foi uma vida tão gozada e repleta de sentido como a vida que qualquer outro queijinho viveu dentro da caixa?

.

Sem comentários: