terça-feira, 26 de outubro de 2010

Smith e as Sereias - episódio 25

Previamente, em Smith e as Sereias, Poseidon sugere a Smith e ao moço louro que de vez em quando se chama Jack uma viagem dedicada (finalmente) a encontrar Rose, a namorada perdida. Essa viagem será feita no submarino mais conhecido de todos nós: O Submarino Amarelo, dos Beatles. Estou a brincar. É o Nautilus, o submarino de um certo capitão monhé.


- Não gosto de submarinos – disse Ariel. Estavam no quarto, ela e Smith, sentados na cama e a conversar sobre a possível viagem épica do quarteto.

- Eu nem sei o que isso é, só andei de barco – respondeu Smith – Mas é a forma que temos de encontrar a namorada do Jack.

- Tu queres mesmo encontrar essa rapariga.

Smith olhou-a nos olhos.

- Porque é que dizes isso?

- Porque não é a primeira vez que insistes. E além disso não vamos propriamente passear às traseiras do palácio. É uma viagem que pode durar muito tempo. Sabe-se lá onde anda a rapariga, se é que ainda está viva.

- Viva deve estar, o Jack contou-me que a deixou a boiar em cima de uma porta e que por isso é que morreu.

- Não percebi.

- É que a água estava fria e ele queria salvá-la. Morreu congelado, com queixo apoiado na porta.

- E porque é que não se foram revezando?

- Isso – disse Smith, agitando um dedo – é uma óptima pergunta.

***

- Hoje estamos aqui reunidos para nos despedir de uma campanha corajosa e emocional – declarou Poseidon, no pódio do salão de banquetes. Ao seu lado direito estava Namor, do outro a enorme figura do monhé. Eu e Ariel jantávamos juntos, ao lado de Jack e Lilith. Jack continuava a desenhar mais uma das suas centenas de reproduções do desenho original de Rose, só que agora com uma cauda de sereia em vez de pernas. Eu achava aquilo esquisito, e por pouco não lhe disse que se calhar ele começava a ver-se seduzido por mulheres-peixe. Ou então estava a ficar doido. Não, isso não.

- É com prazer que anuncio a partida do Nautilus, comandado pelo nosso indiano favorito…

Houve gargalhadas. O monhé chamado Nemo permaneceu quieto e com ar de quem acabou de ser pisado no metro.

- … E com o objectivo de encontrar a noiva de um dos nossos mais recentes companheiros aqui do palácio: Tom Cruise.

Houve palmas. O moço louro agradeceu, e perguntou a Lilith num murmúrio porque raio é que ninguém percebia o seu nome. Uma pescada enorme ao meu lado perguntou em voz alta se se referiam à Katie Holmes. O marido, um bacalhau gordíssimo, arrotou e não respondeu.

A festa de despedida estava populada por figuras grotescas. Eram peixes gordos e importantes, uns com medalhas, outros com laços ou brasões de famílias importantes. Seguravam em copos minúsculos, com bebidas fortes. Eram acompanhados pelas suas senhoras, algumas delas tão mais novas que parecia suspeito, com enormes laços à volta das guelras e batom de alva vermelha do Ártico na boca.

- O meu pai decidiu convidar todas as grandes figuras do Atlântico norte para esta festa – explicou-me Ariel ao ouvido, enquanto um espadarte gordíssimo passava a nadar ao meu lado a mastigar um aperitivo – Toda a gente admira muito o Capitão Nemo e é uma forma de trazer uma maior estabilidade política à posição do meu pai.

- Pensava que o teu pai era o tipo musculado de trinta metros e dono dos oceanos. E que não devia satisfações a ninguém.

- E não deve. Mas toda a gente lhe pede satisfações na mesma, porque todos estes peixes se acham muito importantes. E o meu pai alimenta-lhes a inocência.

- Por alguma razão em especial?

- Claro. É por causa dos atlantes.

- Quem são esses?

- Não sabes? O que não faltou foi referências nos últimos episódios.

- Que é isto? – perguntei, apontando para uma bandeja que um carapau de lacinho me apresentava.

- Canapés, sinhor – disse o carapau numa voz fininha.

- Com quê?

- Caviar, sinhor.

- Isso é aquele pão de forma barato dos supermercados – afirmei, apontando para o canapé; e era verdade. O carapau ficou nervoso.

- Mas isto é pão de forma chique, sinhor. Repare, foi cortado em forma de concha. E este em forma de estrelinha do mar. O pão de forma dos pobres tem a forma que vem na embalagem, mas este não.

- Ah, ok – disse eu, esclarecido. Meti três canapés na boca – O que estavas a dizer?

Ariel continuou:

- Os atlantes e o meu pai têm uma relação de ódio quase oficial. O meu pai manda em todos os oceanos, menos no Império Atlante. Isso a ele pouco lhe importa, mas para os atlantes é uma espécie de castração emocional. Ficaram doidos quando o meu pai lhes destruiu o seu pequeno continente.

- Porque é que fez isso?

- Vai ler o episódio anterior.

- Ok – engoli o resto dos canapés mastigados e levantei as mãos – Chega. Chega de piadas e referências aos episódios. Já farta.

- Tens razão – Ariel encolheu os ombros e tirou uma bebida cor de laranja de cima da bandeja de um peixinho pequeno que ali ia a nadar – De qualquer forma, zangaram-se os dois impérios e agora só há turras entre os dois. A última e aliás única tentativa de conciliação foi o meu casamento com o Namor, que como todos sabemos correu lindamente – Ariel levou a bebida à boca.

- Então suponho que os atlantes estejam furiosos com a ideia de ver o Namor e o teu pai assim. Como que casados.

- Exactamente.

- E não podem tentar alguma coisa?

- Alguma coisa?

- Sei lá. Um atentado.

- Ui, que exagero – disse Ariel com um sorriso – Eles não são assim tão bárbaros.

***

Retirado do jornal Diário Anémona,

ESCANDALOSA EXPLOSÃO NO PALÁCIO REAL | A homossexual corte de Poseidon sofreu ontem à noite um severo golpe no seu "Orgulho Gay". Numa festa que, segundo repórteres sérios do nosso jornal, foi dedicada à projecção de filmes gay e lésbicos, uma bomba colocada debaixo de uma mesa repleta de doces elitistas rebentou, transformando doze dos vários barões, condes e capitalistas da corte de Poseidon em filetes desfarelados. Pelo menos sete sereias também ficaram feridas. Poseidon não quis prestar declarações, muito menos o seu amante semi-nu Namor. Uma equipa de médicos foi destacada ao local, incluindo o Dr. Polvo, para tratar os feridos. As autoridades dizem que a bomba foi, com certeza, um atentado terrorista, mas dificilmente para matar Poseidon uma vez que a mesma foi colocada demasiadamente longe do trono onde este se sentava. O nosso jornal não quer ser parcial, mas se o Rei dos Mares tivesse batido a barbatana não se teria perdido nada.


Todas as Terças e Quartas, mais episódios de Smith e as Sereias.

Sem comentários: