sábado, 6 de agosto de 2011

Samora 38


- Somos omnívoros, é inegável - disse Samora, algumas semanas antes - Os nossos antepassados alimentavam-se de frutos e de raízes pois não conheciam os benefícios da carne cozinhada, do cozido, do assado, do corado. Regressar a esse mundo, e ainda por cima pelo bem dos outros animais, é negar o nosso desenvolvimento. Parte de ser Humanidade está exactamente nesta nossa característica de matar animais que se calhar até têm medo de nós, e que são delícias para a vista. Cuidar de gatinhos e matar coelhinhos; para uns é incongruência, para mim é a consequência da nossa natureza. O gatinho é de facto atraente à vista, e aliás um companheiro inegável, ainda que independente; enquanto isso, o coelhinho vai bem com batatas. A culpa é tanto nossa como do animal, que parece ter evoluído na perfeição para nos deliciar o paladar. Está-nos no sangue, que há a fazer? Aceitá-lo, com a mesma naturalidade com que se aceita que andem por aí sodomitas a casar.

- Mas a razão humana poderá ultrapassar essa natureza. Talvez seja na altura de negarmos a natureza instintiva e substitui-la pela razão e pela ponderada reflexão sobre as consequências do que fazemos.

- E noutra ocasião concordaria consigo - Samora mastigou, observando a paisagem pela janela do restaurante - Mas aprecio verdadeiramente um bom bife. 

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